Círculo de Fogo

"Deixai toda esperança, vós que entrais." Quem disse que o poço não tinha fundo? Eu mesmo? Acho que foi, mas estava errado. O poço em que nos atiramos - não caímos por acidente, foi suicídio tentado - não tem um, mas muitos fundos. Sucessivos e escalares às profundas. Nove círculos? Que nada, são infindos circulares. Vórtecis ligando a superfície ao abismo, no pantagruélico devorar de um povo. Nos tempos dos marechais e pela caneta do seu fantoche, despencamos sucessivamente, degrau a degrau, andar a andar, da espiral descendente à degradação mais profunda, ao contraste mais sombrio, ao desânimo da perda irreversível. Perdemos nosso país, aquele outro não existe mais. Nada é mais simbólico do que o sofismo na venda de ossos, do cinismo da venda de pés e pele de frango nas gôndolas e prateleiras dos supermercados e agora do soro de leite, pois é o que restou para matar a fome de milhões de crianças. Tudo isso enquanto o verme maldito rosna que o Brasil é referência de segura...